Das vãs sutilezas
Os homens recorrem por vezes a sutilezas fúteis e vãs para atrair nossa atenção. [...] Aprovo a atitude daquele personagem a quem apresentaram um homem que com tamanha habilidade atirava um grão de alpiste que o fazia passar pelo buraco de uma agulha sem jamais errar o golpe. Tendo pedido ao outro que lhe desse uma recompensa por essa habilidade excepcional, atendeu o solicitado, de maneira prazenteira e justa a meu ver, mandando entregar-lhe três medidas de alpiste a fim de que pudesse continuar a exercer tão nobre arte. É prova irrefutável da fraqueza de nosso julgamento apaixonarmo-nos pelas coisas só porque são raras e inéditas, ou ainda porque apresentam alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em si.
Montaigne, Ensaios. Sobre o texto a seguir, não é possível afirmar que:
o primeiro período do texto constitui um chamado tópico frasal, que explicita a tese.
o segundo período inicia uma narrativa que exemplificará e ilustrará o ponto de vista defendido pelo autor.
o terceiro período é uma breve descrição que refuta parte da tese do autor, dada a excepcionalidade do feito minuciosamente descrito.
o início do último período reitera a tese ao afirmar que o julgamento humano é frágil e volátil.
o final do último período expande a tese ao somar “as coisas” que “apresentam alguma dificuldade” às que “são raras e inéditas”.